Me conta um conto: Maria não vai com as outras

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Maria não vai com as outras

Uma longa etapa da vida escolar é consumada no 3º ano do Ensino médio. A alegria e satisfação de dever cumprido misturam-se com as muitas inquietações que surgem neste período: ser aprovado no vestibular e a escolha do curso e da instituição, podem ser citados, mas, a despedida dos colegas com laços de amizades criados durante uma metade da vida é um das mais apreensivas.

Eclética, era a turma de formandos de 2021. Sempre nos extremos. Tinha uma bem caladinha, que gostava de cantar. Tinha uma ruiva crítica (no sentido bom da palavra) e outra “menina maluquinha”, digo, que gostava de estudar as teorias Freudianas.

Nesta turma, como em todas as outras, também havia aquele que falava só o necessário e que gostava de umas coisas estranhas para pessoas comuns, acho que é chamado de “nerd”. Tinha uma bela até no nome e que andava sempre com um amigo amante de bons livros, talvez daí tirava tantas argumentos sobre assuntos pontuais para este tempo. Não poderia esquecer daquele aluno que, por motivos próprios, pediu a transferência.

Nossa! tinha um outro garoto estilo professor crítico – Vá…tá perdoado! Também né? dono de tantos talentos. Por se falar em perdão, tinha um aluno ‘quase’ padre, pois gostava do conhecimento teológico, ainda bem, já que na turma havia tantos personagens bíblicos: Pedro, Ana, José e as 4 Marias, tudo santo, só que não(rsrs). Falando de Maria…aluna dedicada era Maria. Esforçada e de uma disciplina ímpar. Sempre atenciosa, esmerava-se por anotar as correções das atividades. A estudante era reservada, representava muito bem o grupo dos estudiosos até no estereótipo que criamos para pessoas com estas qualidades. Sem dúvidas, o uso de óculos para reparar problemas na visão é facilmente associado aos intelectuais.

Silente, Maria prestava atenção na explanação do conteúdo pela professora que muitas vezes acabava fomentando deliciosos debates sobre temáticas necessárias e passíveis de reflexão.
Foi num desses dias em que os discentes expunham orgulhosamente suas paixões literárias, escritores favoritos, quantidade de obras lidas, cogitando a possibilidade de compartilharem as obras já lidas.

Então, a professora quis saber um pouco mais sobre as preferências da jovem sobre o assunto que deixou a classe eletrizada supondo que, a julgar pela aparência, Maria era uma leitora dedicada de livros. Para a surpresa da docente, Maria sem se apropriar da fala dos colegas, sem medo de ser mal- interpretada, respondeu segura de si:
_ Professora, não gosto muito de ler livros, tenho outras preferências, gosto de músicas e filmes.

Após razoar consigo, envergonhada pelo seu preconceito, a professora relembrou o provérbio que diz sobre “não julgarmos o livro pela capa”. Parabenizou Maria por suas preferências de um indiscutível bom-gosto. Neste contexto, ela aproveitou para fazer um adendo sobre outros tipos e níveis de leitura. Ponderações feitas, a aula seguiu com os alunos sendo conduzidos a pensarem sobre outras possibilidades de leituras.

É inevitável a despedida, mas quando chega a hora de trilhar caminhos diferentes só nos restará as lembranças e a esperança do reencontro. Por isso, nunca devemos nos esquecer que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã.

 

 

 

Cirlene da Silva Lima é licenciada em Letras pela Universidade de Brasília e Bacharelando em Teologia pelo Instituto de Teologia e Educação Gênesis. Atua como professora mediadora presencial do curso em Inglês Básico ofertado pelo Polo Universitário de Buritis em parceria com o IFNMG.

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