Lampião morreu em Buritis?

5
13153

 

CURIOSIDADES DE BURITIS

O Lampião se apagou? Outros Lampiões ficaram?

Ao contrário do que afirma Luiz Gonzaga na letra de sua música “Lampião Falou”, o título desse texto se torna uma pergunta e gera margem pra dúvida, sobre a história do maior cangaceiro de todos os tempos, Virgulino Ferreira, o Lampião.

Dentro desse contexto histórico é que contaremos uma segunda versão sobre a vida e morte do Rei do Cangaço. Segundo o livro “Lampião, o Invencível – duas vidas, duas mortes”, edição 2009, de autoria do fotógrafo José Geraldo de Aguiar, que conta a versão que Lampião não morreu na emboscada de Angico, como a história registra, e esta mesma versão, teria sido revelada ao fotógrafo através do próprio Lampião.

Após 17 anos de pesquisa, José Geraldo Aguiar (em memória), natural de São Francisco, se afastou parcialmente de seu estúdio e se dedicou à coleta de dados e documentos que comprovassem sua tese histórica: a de que o legendário Lampião, não teria sido assassinado em emboscada promovida pelas forças policiais em 28 de julho de 1938, na localidade de Angico, município de Poço Redondo, no estado de Sergipe.

Segundo o fotógrafo-pesquisador, o esquartejamento de Lampião e outros jagunços não passava de uma farsa, pois o verdadeiro cangaceiro teria desistido do ofício antes da emboscada, juntamente com Maria Bonita e outros seguidores, fugindo para a cidade de Paulo Afonso e, de lá, para o Norte de Minas, num roteiro que inclui Manga, Itacarambi, Missões, povoados de Brejo do Amparo, São Joaquim e Tijuco, em Januária, Pedras de Maria da Cruz, Matias Cardoso, Capitão Enéas, Arinos, Urucuia, São Francisco e finalmente Buritis, onde faleceu em 1993.

De acordo com o livro, diante das perseguições no Nordeste, o cangaceiro planejou fugir desapercebidamente daquela região, e assim o fez. O tenente Bezerra, que se diz matador de Lampião, já era conhecido na região sertaneja como um oficial corrupto, pois mantinha uma relação amistosa com o cangaceiro. Além disso, é sabido também que Bezerra fornecia armas e munições à Lampião. Houve a emboscada, no entanto, não se sabe quem de fato estava nela. Conforme Lampião já havia planejado, ele se ausentou desse ocorrido e fugiu antes.

Virgulino Ferreira da Silva , Lampião.

Além do mais, dos 34 cangaceiros que estavam em Angico, apenas 11 morreram, todos os outros 23 cangaceiros fugiram no meio da vegetação.

Durante uma entrevista após publicar o livro, José Geraldo afirma ainda que manteve contato com o ex-cangaceiro Sebastião Santos Vieira, mencionado no livro, e ele, aos 86 anos, afirmou ter presenciado a emboscada de 1938, chamando de “cabra mentiroso” quem diz ter matado Lampião. Ele confessou ainda ter sido preso naquele dia e que o rei do cangaço não se encontrava ali.

A história do livro relata que ao sair de Angico, Virgulino procurou um porto seguro no Piauí. Lá, ele viveu por alguns anos, depois passou a residir na Bahia e, gradativamente, veio descendo pelas bordas do Rio São Francisco, até chegar em Minas Gerais. Aqui, ele esteve em inúmeras cidades, sendo Manga a primeira delas.

Muitos dos cangaceiros foragidos mudaram-se para diferentes cidades, o cangaceiro Criança foi viver na cidade de Santos, o cangaceiro Sabino residiu em Bocaiuva, Moreno e Durvina moraram em Belo Horizonte. Já Maria Bonita, segundo o livro, morreu em 1978, em Montes Claros, no Hospital São Lucas, acometida por um câncer e está enterrada na fazenda Contendas.

Outra incoerência da história oficial sobre a emboscada e provável morte do líder dos cangaceiros, é o fato de a perícia da cabeça de Lampião ter sido feita pelo dentista Dr. José Lages Filho, em cujo laudo ele jamais afirma que aquele era Virgulino; até mesmo porque o profissional não o conhecia.

Além desses documentos e provas que o fotógrafo-pesquisador conseguiu ao longo dos anos, há fotos inéditas de “Lampião” tiradas em 1978 e que estão no livro. Estas fotos foram enviadas para o IML (Instituto Médico Legal) de Brasília-DF que, após examiná-las, classificou-as como fieis à pessoa de Lampião.

Em sua pesquisa, José Geraldo descobriu as inúmeras cidades que “Lampião” morou, após sua vinda do Nordeste para Minas Gerais, e os diferentes nomes que adotou por onde passava, cerca de 13 nomes diferentes, dos quais cinco estão no livro.

O livro do autor José Geraldo Aguiar

Segundo o autor, após longo tempo de pesquisa, conseguiu se encontrar com Lampião no município de São Francisco. “Ele era um homem sério, alto, forte, tinha o olho direito problemático, falava pouco, nunca sorria e só respondia o necessário. Enfim, era um homem de poucas palavras.” José Geraldo conta ainda que após vários encontros, a partir do momento em que disse que queria filmá-lo, nunca mais o viu. “No dia seguinte, quando retornei à sua casa, ele já havia ido embora para Buritis.”

Lampião veio morar em Buritis com sua última esposa, Severina Alves Moraes. Os dois se conheceram no município de Paulo Afonso, tiveram 3 filhos e moraram em diferentes cidades de Minas Gerais. Nesse tempo, ele adotou o nome de Antônio Maria da Conceição.

Outro filho de Lampião, Tadeu Lima, que também veio para Buritis, é fruto do penúltimo casamento com Maria Pereira de Brito e atualmente, é proprietário de um pesqueiro a cerca de 45km da cidade, onde vive com sua família.

Alguns moradores relatam ter conhecido o suposto Lampião, homem de poucas palavras e de olhar intenso. Segundo relato de seus familiares que residem em Buritis, o Sr. Antônio mudou-se para Buritis em 1978, ele arrendava fazendas na região e por cá vivia com sua família, entre idas e vindas para outros municípios, como por exemplo, São Francisco.

Na cidade, Antônio Maria da Conceição morou com sua última esposa e filhos, na rua 1 do bairro São João, onde morreu de parada respiratória enquanto dormia, com a mesma idade que teria Lampião, aos 96 anos, em 1993.

O corpo de Antônio está enterrado no cemitério velho de Buritis, de forma muito simples e com outro nome, Antônio Teixeira Lima. Há poucos anos, o então prefeito de Urucuia visitou Tadeu (filho) e pediu que deixasse levar os restos mortais de seu pai para ser enterrado no município de Urucuia, Tadeu negou esse pedido.

Até hoje, mesmo após investigações, matérias jornalísticas, livros, pesquisas, pedidos de exumação do corpo e pedidos negados de exames de DNA com a filha de Lampião e Maria Bonita, existe a lenda e outras versões da história de vida e morte de Virgulino Lampião, cangaceiro conhecido no Brasil e no mundo inteiro.

Texto: Gilberto Valadares.

Fonte: Livro – Lampião, o Invencível – Duas vidas e Duas mortes. Família que reside em Buritis, filhos de Antônio Maria da Conceição.

5 comments

  1. Joarez Virgolino Aires 4 novembro, 2020 at 09:51 Responder

    a versão do José Geraldo faz todo sentido. A versão divulgada CONFLITA TOTALMENTE COM O PERFIL E O MODSUS OPERANDE DE MEU TIO, lAMPÁO.
    COMO ESTRATEGO RECONHECIDO PELOS MILITGARES MAIS ACURADOS, LAMPÍÃPO NÃO SE DEIXARIA APANHAR ESTUPIDAMENTE COMO FOI DIVULGado.
    A versão é, claramente uma criação para desacartar um agente tãqo incômodo para a combalida e imcompetente república, já tão desmoralizada e dcesacreditada! Além do mais, muito devoto e obediente ao padre Cicero que ordenou que se afastasse e fosse para Goiás. a EXEMPÇLO DO SINHORZINHO A AQUEM MEU TIO TANTO ADMIR
    Com muita honra levo em meu nome o VIRGULINO
    PROFESSOR POR QUARENTA ANOS, NO MEU SEGUNDO LIVRO, “Retalhos da caminhada” reverencio esse meu ilustre e valoroso tio. Meu nome: Joarez Virgolino Aires.

  2. Jose Murilo Gomes Gurgel 11 fevereiro, 2021 at 17:52 Responder

    Em 1970 morei perto mercado do São João do Tauape, numa vila chamada Vila Francine e lá conheci um sr muito conversador e falou que em 1965 conheceu lampião numa estrada carrosavel no Juazeiro do Norte ele perguntou ao sr se tinha vista passar uns soldados por ali e disse que não e lampião deu uma espora de prata e uma bala também de prata, como pagamento para não falar pra ninguem que ele tinha passado por ali, Não acreditei, mas ele foi em casa e me mostrou a espora e bala, aparti daí comecei a pesquisar e atraves de muitos fatos, não acredito que lampião morreu em Angicos,
    Em 1990, conheci o sr Pedro no Jardim Guanabara, do qual já morreu, e, em comercio neste bairroele falou que é de Rio Grande do Norte, e falou que lampião morreu de velho, pois Maria morreu primeiro em 1987 de cancer, E eu tambem acredito, pois no pedestral onde consta 11 cangaceiros falta 2 cabeças, só consta os chapeus de Lampião e Maria Bonita.

  3. José Flávio Ferraz Santiago 21 março, 2021 at 01:23 Responder

    Ainda que muitos defendam a tese de que Virgulino foi morto em meados de 1938, mesmo sendo apenas um advogado, de origem sertaneja, é verdade, não consigo entender com um eximiu estrategista (comparado a Napoleão Bonaparte) pode ter se deixado abater em um local por ele considerado dos mais seguros àquela época. Não se diga que todos foram envenenado, pois só foram abatidos 11 cangaceiros, evidentemente haviam cangaceiros de tocais (bem armados) e os cachorros não bebiam como, salvo engano, ainda hoje não bebem. Vale ressaltar que em meio à estória de que todos foram antecipadamente envenenados, dizem que Maria Bonita foi violentada e decapitada ainda viva. Não fosse suficiente, estamos falando de um local de difícil acesso, à margens de um córrego, ou pequeno riacho, – que àquela época deveria está com água corrente -, e, segundo as publicações, foram vários soldados, inclusive carregando fuzis e metralhadoras pesadas. Desnecessário lembrar que a vegetação seca e os gravetos, por si só, seriam suficientes para denunciar a aproximação de um animal, por menor que fosse. Mais estranho ainda se afigura a alegação de que os corpos (ossadas) foram sepultados poucos dias depois e, possivelmente, foram arrastados pela águas, haja vista que, se estávamos no período chuvoso, afigura-se por demais estranhos as covas terem sido feitas “dentro d’água”, quase sempre forrado por muitas padras. Não fosse suficiente a grande preocupação de Virgulino com a segurança do bando, os cachorros não estavam menos atentos do que os cangaceiros mais expertos que, certamente, foram destacados para ficar alerta – sempre muito bem armados. Ademais, são inúmeras as contradições verificadas nos mais diversos depoimentos colhidos no sentido de ratificar a estória de que Virgulino foi morto na grota da Fazenda Angicos, sem esquecer que Virgulino nunca dormia justo com os demais cangaceiros. Se o mundo estava ciente das façanhas de Virgulino, enfrentando a injustiça impostas aos nordestinos pobres desde à época da “distribuição da terras” do sertão, sempre em favor daqueles mais próximos do coronéis e políticos, quase sempre corruptos, porque os corpos teriam sido deixados quando, à toda evidencia, ao contrários das cabeças desfiguradas, serviriam como “grandes troféis”? Vale ressaltar, de logo que “acidntamente” a cabeça de Virgulino foi desfigurada por um soldado “desavisado”. Se eram tantos soldados, tão bem organizados e bem comandados, por que ao menos a cabeça do suposto Virgulino não foram preservada para não haver dúvida da empreitada. Será que a macabra exposição das cabeças não teve a finalidade de desviar o foco da atenção dos corpos e jóias supostamente deixadas para trás, de modo que fossem, de fato, eleitas como as cabeças de Virgulino e Maria Bonita? Causa estranheza maior verificar que os médicos legistas chegaram a “registrar” traços de beleza no crânio de Maria Bonita e sem apontar qualquer evidencia que confirmasse o crânio de Virgulino, desfigurada por um dos soldados. Não será a primeira vez que, mais adiante, levada à sério a necessidade de uma investigação mais acurada da história e realizado um confronto entre o resultado do exame de DNA no corpo sepultado na cidade de Buritis, na cabeça sepultada na Bahia e elementos fornecidos pelos supostos familiares vivos de Virgulino venha a provocar uma mudança de rumo nesse assunto. Não estamos falando de alguém que já nasceu com o ímpeto de “bandido”; alguém que desafiava a Igreja Católica, inclusive na pessoa de Padre Cícero; alguém que, à unanimidade, era mal. Parece estranho, aos mais desavisados, que Virgulino não teria conseguido escapar da emboscada da fazendo Angicos e se dirigir exatamente para uma área onde outros vários cangaceiros já haviam se recolhido, inclusive seu antecessor, Sr. Pereira? Porque Virgulino não teria finalmente acatado a orientação do Padre Cícero, um religioso, um politico influente e um homem poderoso àquela época. Não podemos esquecer que, entre coronéis e políticos que repudiavam com veemência a política e a maior parte dos políticos daquela época eram gratos a Virgulino. Não é exagero destacar que, além dos já mencionado exames de DNA, já levantaram a hipótese de adentrar até mesmo nos arquivos do exercito, salvo melhor juízo, por coincidência, nas proximidades da Faculdade de Direito do Recife, no bairro da Boa Vista ! Me parece uma questão de coragem e respeito pela História.

  4. ROBSON 2 dezembro, 2021 at 10:16 Responder

    José Flávio Ferraz Santiago, o Sr resumiu tudo o que penso a respeito do fim de Vígulino Ferreira. Talvez nunca saberemos a verdade. Mais a versão oficial, fica difícil aceitar. Principalmente, pra quem estudou bastante sobre o assunto, e assim, como eu que conheceu o local (Grota).
    A data de seu comentário, coincidentemente, é meu aniversário, rss.

Deixe uma resposta